quarta-feira, 14 de abril de 2010

SOCIALISMO DE ESQUERDA DEMOCRÁTICA E DA SOCIAL-DEMOCRACIA: UM PARTIDO PARA TODOS!



TEXTO PUBLICADO EM 14 DE ABRIL DE 2010 NO JORNAL "O PRIMEIRO DE JANEIRO", PÁGINA 2.

SOCIALISMO DE ESQUERDA DEMOCRÁTICA E DA SOCIAL-DEMOCRACIA: UM PARTIDO PARA TODOS!
Ao longo de muitos anos, o Partido Socialista sofreu uma grave crise de recrutamento de jovens quadros. O período cavaquista deixou o PS na berma da conquista de investigadores, docentes, gestores, médicos, advogados, economistas e engenheiros, formados nos finais da década de 80 e inícios da década de 90, do século passado. Esses dez anos criaram, no PS, um foço geracional de que ainda hoje nos ressentimos.
Muitos dos que vieram posteriormente e ocupam lugares de destaque nestes tempos, não sabem o duro que foi.
A nossa vitória eleitoral em 1995 e o regresso ao poder em 2005, bem como os debates dos Estados Gerais e das Novas Fronteiras, permitiram a conquista e reconquista de muitos e relevantes militantes para as nossas fileiras. Acontece que o seu enquadramento e a sua inclusão na vida do partido, têm sido muito difíceis.
Para quem exerce funções no Pelouro do Ambiente no secretariado da secção de residência da freguesia do Bonfim, na cidade do Porto, continua a ser, reconfortante, encontrar camaradas de várias localidades que já não têm que provar nada a ninguém, nas suas profissões e actividades e que querem, unicamente, dar o seu contributo cívico na actividade diária do nosso partido. O que tem sido pouco interessante, é verificar a sua pronta resposta quando questionados sobre a vida partidária – não nos ouvem, dizem!
O PS está hoje na Governação do País. Essa circunstância faz com que a atenção ao partido, à sua actividade do dia-a-dia e ao debate interno, sejam colocadas em segundo plano. Nós sabemos que é assim, quase sempre. E também sabemos que a grave situação que o país vive, com a consequente exigência da governação, deixa pouca margem para o trabalho militante. Acontece que a actual conjuntura política, de exigência e de combate, não pode, não deve, libertar o partido de uma atitude mais presente e mais interventiva.
É neste esforço de retaguarda do Governo e de permanente reinvenção do nosso partido, que importa abrir o caminho para as novas gerações.
A Fundação ResPublica tem desenvolvido um excelente trabalho de forma muito meritória, formando e promovendo o debate. Seria bom que a sua actividade se alargasse a todo o país. Mas não podemos deixar nas mãos da Fundação o trabalho de campo que urge fazer.
Três áreas se apresentam para os próximos quatro anos. 1ª O combate autárquico; 2ª O reforço da nossa participação social; 3ª A reinvenção do nosso espaço ideológico.
No combate autárquico importa que se iniciem os trabalhos para que o nosso partido possa ser, em 2013, o grande, o maior, partido do poder local. Se olharmos para as alterações verificadas em 2009 e para os municípios que mudarão de presidente, no final do presente ciclo, fruto da limitação de mandatos, teremos um grande espaço de crescimento e de afirmação. Esse trabalho terá que ser desenvolvido, com paciência e cuidado, dando campo de afirmação aos novos quadros.
Num tempo em que o contrato social se desgradua, o sindicalismo se esvai, o movimento associativo definha e está cada vez mais dependente do Estado, importa que o PS se afirme nas estruturas empresariais, sindicais ou de classe. Que se envolva nos movimentos de bairro, no voluntariado e na defesa do meio ambiente.
Que se esforce para voltar a recrutar nas academias do secundário e do superior. Trabalho ciclópico, dirão! Trabalho essencial para o futuro, consideramos nós.
Por fim, o PS não pode exaurir-se na actividade governativa que é, cada dia que passa, mais delicada. Num período em que as crises mundiais se sucedem, não só a financeira que deu lugar à económica, mas principalmente as que põem em causa o equilíbrio territorial e as que decorrem da descompensação demográfica e dos desequilíbrios geoestratégicos, o PS tem que regressar, de novo, à discussão sobre o papel do socialismo de esquerda democrática e da social-democracia. E essa discussão não pode, não deve, ser com cartas marcadas, sob pena de iniciarmos o caminho da nossa descoloração.
Perspectivando o futuro, conscientes da nossa responsabilidade como maior partido português, chegou o momento de olharmos para nós e de fazermos o caminho.
Mário de Sousa* - Bonfim, Porto, Portugal
*Consultor de Comunicação

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