terça-feira, 13 de abril de 2010

MANUEL TEIXEIRA GOMES (27/5/1860-18/10/1941): UM HOMEM DE VIDA SINGULAR!



TEXTO PUBLICADO EM 13 DE ABRIL DE 2010 NO JORNAL "O PRIMEIRO DE JANEIRO", PÁGINA 2.


CELEBRAR O CENTENÁRIO DA REPÚBLICA PORTUGUESA COM NOME GRANDE

MANUEL TEIXEIRA GOMES (27/5/1860-18/10/1941): UM HOMEM DE VIDA SINGULAR!

Manuel Teixeira Gomes, estadista e escritor, natural de Portimão, no ano em que se comemora o 150.º aniversário do seu nascimento.
Foi o sétimo presidente da Primeira República Portuguesa, cargo de que toma posse a 5 de Outubro de 1923 e resigna do seu mandato em 11 de Dezembro de 1925, justificando com a vontade de se dedicar em exclusivo à literatura.
É de Paris que Afonso Costa sugere a candidatura de Manuel Teixeira Gomes, que foi eleito em 6 de Agosto de 1923. Mais uma vez Bernardino Machado perdia a corrida às presidenciais.
Manuel Teixeira Gomes parece uma figura saída do génio de um Hugo Pratt. E podia ter sido o herói de uma das suas bandas desenhadas. A sua vida é passada em vários países, tendo acabado quase como Corto Maltese, não a guerrilhar mas a escrever, nas cálidas areias argelinas.
Manuel Teixeira Gomes nasceu em Vila Nova de Portimão, em 27 de Maio de 1860, filho de José Líbano Gomes e Maria da Glória Teixeira Gomes.
Nasceu num meio burguês e rico, numa casa espaçosa e cheia de conforto, sol e flores. Foi educado pelos pais até entrar no colégio de São Luís Gonzaga, em Portimão. Aos 10 anos, os pais mandam-no para um seminário de Coimbra. Depois passa para a Universidade de Coimbra, onde frequenta medicina, mas perde-se na boémia da Lusa Atenas, cedo desiste do curso e, contrariando a vontade do pai, muda-se para Lisboa, onde pertencerá ao círculo de Fialho de Almeida e João de Deus. Mais tarde, e por intermédio de Fialho de Almeida conhecerá outros vultos importantes da cultura literária da época, como Marcelino Mesquita, Gomes Leal, António Nobre e outros. O pai convenceu-se então que era melhor continuar a dar-lhe a mesada e deixá-lo viver a sua vida de rapaz, já com forte tendência para as artes: literatura, pintura e escultura. Seguiu a literatura, mas não deixou de admirar as outras artes, tornando-se amigo de grandes mestres, como Columbano Bordalo Pinheiro ou Marques de Oliveira.
Após ter cumprido o serviço militar, vai viver para o Porto, onde acamarada com Sampaio Bruno (ia à padaria do pai dele comer uns bolinhos), Basílio Teles, Soares dos Reis e outros. Com Joaquim Coimbra e Queirós Veloso publica o jornal de teatro Gil Vicente. É neste período que começa a colaborar em revistas e jornais, entre eles "O Primeiro de Janeiro", “Folha Nova” e "A Luta", (este de Lisboa), propriedade de Brito Camacho.
O pai era produtor de frutos secos, nomeadamente amêndoa e figo, e é nessa qualidade que Manuel viaja por países do Mediterrâneo e quase toda a Europa. O seu gosto pela arte e cultura literária fazem-no travar conhecimento com nomes importantes da cultura europeia. "Fiz-me negociante, ganhei bastante dinheiro e durante quase vinte anos viajei, passando em Portugal poucos meses". ("Miscelânea").
Aos 39 anos, Manuel Teixeira Gomes vai amar uma bela jovem algarvia de quem terá duas filhas. Chamava-se Belmira das Neves e nasceu numa família de pescadores, o que, dado os Teixeira Gomes serem uma família importante de Portimão, terá impedido o casamento. Hoje levantam-se vozes sobre as suas orientações afectivas.
Como Teófilo, também Teixeira Gomes marcou mais a literatura do que a política. Em 1899 publica "Inventário de Junho", em 1904 "Agosto Azul" e em 1909 "Gente Singular". A sua vida política ao serviço da República começa em 1911 e prolonga-se até 1918, no espinhoso cargo de Ministro dos Estrangeiros em Londres. Em circunstâncias adversas, visto as verbas disponíveis para o seu cargo serem escassas, Manuel Teixeira Gomes paga do seu bolso a um secretário inglês para o ajudar nas tarefas quotidianas.
Fazer com que a nossa velha aliada (Inglaterra) reconhecesse a jovem e ainda pouco estável República Portuguesa não era tarefa fácil, mesmo para um homem de grande cultura como Manuel Teixeira Gomes. Isto porque a família real britânica se encontrava ligada por laços familiares e amizade à última rainha portuguesa, Dona Amélia, e ao último rei, seu filho, D. Manuel II, então exilados no palácio de Richmond.
Mas a simpatia e "charme" de Manuel Teixeira Gomes eram tais que, ao fim de muitos anos em Londres, já a família real o convidava para o palácio com toda a naturalidade. Esteve no Palácio de Balmoral, na Escócia, e sabe-se que a rainha Alexandra o convidou para lhe decorar o gabinete oriental do Palácio de Buckingham.
Quando Sidónio Pais ocupa a Presidência, chama-o a Portugal e demite-o do cargo, no início do ano de 1918. Então Manuel Teixeira Gomes fixa-se novamente no Algarve, como administrador de propriedades.
Toda a sua obra literária está repassada de figuras algarvias (é considerado o escritor do Algarve). A primeira namorada era de Ferragudo, personagens suas são de Aljezur ou Bensafrim, "Sabina Freire" é uma viúva de Portimão. De 1919 a 1923 voltará a ocupa o cargo de diplomata em Madrid e Londres.
Manuel Teixeira Gomes é uma excepção no panorama dos presidentes da 1ª República Portuguesa. Todas as noites jogava às cartas com o seu secretário. Quanto a mim acho-o um "Corto Maltese" (com mais uns anos) que passa pelo Palácio de Belém até concluir que a tarefa não era para ele. Diria "A política longe de me oferecer encantos ou compensações converteu-se para mim, talvez por exagerada sensibilidade minha, num sacrifício inglório. Dia-a-dia, vejo desfolhar, de uma imaginária jarra de cristal, as minhas ilusões políticas. Sinto uma necessidade porventura fisiológica, de voltar às minhas preferências, às minhas cadeiras e aos meus livros“. Do Prefácio do livro de Joaquim António Nunes “Da Vida e da Obra de Teixeira Gomes", Lisboa, 1976.
Resigna ao cargo em 11de Dezembro de 1925 e a 17 de Dezembro desse ano embarca no paquete grego Zeus rumo a Oran, na Argélia. Em 1931, instalou-se em Bougie, na Argélia, onde viveu os últimos dez anos de sua vida num auto-exílio voluntário, sempre em oposição ao regime de Salazar, nunca regressando em vida a Portugal.
Continuou a escrever para o jornal “O Diabo” e para a revista "Seara Nova", para os amigos, talvez para as filhas. Morreu em 18 de Outubro de 1941 em Bougie, na Argélia, no quarto número 13, do Hotel l`Étoile e só em 16 de Outubro de 1950, a pedido da família, os seus restos mortais voltaram à pátria, para o cemitério de Portimão, transportados a bordo do contra torpedeiro Dão. As filhas Ana Rosa Teixeira Gomes Calapez e Maria Manuela Teixeira Gomes Pearce de Azevedo estiveram presentes na cerimónia de regresso.
Como Presidente, ocupou o cargo entre 5 de Outubro de 1923 e 11 de Dezembro de 1925.
Norberto Lopes, no prefácio de "O Exilado de Bougie", escreveu: "Pudera eu traçar-lhe o perfil que fosse digno da sua personalidade requintada, sóbria, simples como a de um grego do século de Péricles, magnânimo e brilhante como a de um príncipe florentino da Renascença".
 
Nota de Referências:
-Fonte: assento de baptismo nº 89, de 11-06-1860, freguesia de Portimão, Arquivo Distrital de Faro.
-Urbano Tavares Rodrigues. Manuel Teixeira Gomes (Introdução ao estudo da sua obra). Portugália Editora, Lisboa, 1950.
-Do prefácio do livro de Joaquim António Nunes “Da Vida e da Obra de Teixeira Gomes“, Lisboa, 1976
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-Norberto Lopes, no prefácio de “O Exilado de Bougie”.
Mário de Sousa* - Bonfim, Porto, Portugal
*Consultor de Comunicação

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