TEXTO PUBLICADO EM 6 DE ABRIL DE 2010 NO JORNAL "O PRIMEIRO DE JANEIRO", PÁGINA 2.
CELEBRAR O CENTENÁRIO DA REPÚBLICA PORTUGUESA COM NOME GRANDE
MÁRIO CAL BRANDÃO (25/3/1910-21/10/1996): DEMOCRATA, REPUBLICANO, COMBATENTE PELA LIBERDADE E UM BALUARTE DO PARTIDO SOCIALISTA!
Em primeiro lugar quero agradecer ao meu presidente Distrital do Partido Socialista do Porto, o meu camarada e amigo Renato Sampaio (camarada e amigo do protagonista desta história verídica), alguns dos elementos para a feitura desta pequena e simples homenagem a um grande português.
Mário Cal Brandão teria hoje cem anos se ainda estivesse entre nós. Teria a idade da República!
Mário Cal Brandão construiu a sua vida a lutar pela liberdade e pela democracia trilhando os caminhos difíceis da resistência durante a negra noite da ditadura.
Nasceu no Porto em 1910, filho de pai galego radicado nesta cidade, após a frequência dos Liceus Rodrigues de Freitas e Alexandre Herculano e depois de terminar o ensino liceal matriculou-se em Direito na cidade de Coimbra, e em Coimbra foi eleito para os corpos gerentes do Jardim Escola João de Deus, na cidade do Porto ocupou durante muito tempo o cargo de provedor do Asilo de S. João, foi advogado e faz parte dos grandes vultos que ficaram na história da luta contra a ditadura e assim ajudou a construir o Portugal livre e democrático de Abril. É memória viva do PS que com Mário Soares, António Macedo, Artur d`Oliveira Valença, José Luís Nunes, Jaime Gama e tantos outros, ajudou a fundar. Depois de terminar o curso em Lisboa com a particularidade de ter feito o quarto ano na semiclandestinidade, regressado do exílio galego. Inicia a sua vida profissional com escritório de advogado no Porto (a toca), que fundara com António Macedo, Eduardo Ralha e seu irmão Carlos, e aqui passará a ser ponto de convergência de oposicionistas. A sua casa passou a ser também para muitos dos que se tinham de esconder da PIDE o local onde sempre encontravam abrigo. Beatriz Cal Brandão tornou-se a matriarca de grandes vultos da democracia lá acolhidos.
Uma vida de homem de forte carácter, firmes convicções, justo e de um comportamento ético exemplar, perseguido mas que nunca se aninhou no comodismo.
Aos 18 anos já a PIDE o perseguia, prendia e exilava por, enquanto estudante universitário, desenvolver uma importante acção na luta estudantil, de 1928 a 1931, tendo-lhe sido fixada residência em Estarreja, por implicação no movimento reviralhista. Daqui parte para o exílio em Espanha. A ditadura nunca foi capaz de o vergar porque a força e os princípios deste Homem não vergaram. Em Coimbra instalando-se na República “Das Águias” fundada pelo seu irmão Carlos Cal Brandão e inscreve-se na loja maçónica “Revolta”, foi dirigente do Centro Académico Republicano e da Associação Académica. Termina o curso em Lisboa com a particularidade de ter feito o quarto ano na semiclandestinidade. Na resistência de que fez divisa da sua vida, funda a Editorial Horizonte, a Cooperativa Coordenadas e participa nas campanhas da Oposição Democrática. Integra a comissão distrital do MUD e empenha-se activamente na candidatura à presidência da República de Quintão Meireles. Nas eleições presidenciais de 1949, foi membro constituinte da comissão do Porto da candidatura do general Norton de Matos, e em 1958 apoiou a candidatura de Humberto Delgado juntamente com Artur d`Oliveira Valença, Artur Santos Silva (pai) e tantos outros, sendo novamente preso.
A partir de 1964, foi co-fundador da Acção Socialista Portuguesa, embrião do que viria a ser o Partido Socialista e durante os anos da ditadura conspirou sempre e sem descanso para a derrubar.
Mário Cal Brandão, sempre ao lado de grandes vultos da resistência como Artur d`Oliveira Valença, Vitorino e José de Magalhães Godinho, Gustavo Soromenho, António Macedo, Artur Santos Silva (pai), Paulo Quintela, Moura Dinis, Afonso Costa Filho e Teixeira Ribeiro, funda o Núcleo de Doutrina e Acção Socialista.
Combateu sempre das mais variadas maneiras e em muitas organizações pela liberdade e pela democracia e isto trouxe-lhe por 15 vezes a passagem pela prisão, três julgamentos sumários e ainda foi defensor nos Tribunais Plenários, de muitos dos que eram acusados pela ditadura.
Viu nascer a II República, viveu Abril e permanentemente nos lançava avisos no sentido de que existem princípios e valores de que nunca devemos abdicar.
Após o 25 de Abril continuou a sua luta pelos valores em que sempre acreditou e participa activamente na construção e consolidação da II República, como primeiro governador civil do Distrito do Porto, como deputado constituinte e como deputado da República é eleito em todas as legislaturas até 1991.
Foi um dos fundadores do Partido Socialista juntamente com sua esposa Beatriz Cal Brandão, e foi agraciado pelo rei de Espanha com a Ordem de Mérito Civil e pelo Presidente da República Portuguesa com a Ordem Militar de Cristo.
De Mário Cal Brandão fica-nos os ensinamentos de que a democracia se constrói sempre e a cada momento, que a liberdade é um bem que jamais poderá ser posto em causa e os caminhos da recta cidadania o guião que nos deve conduzir a uma sociedade mais justa, fraterna e solidária.
Portugal, o Partido Socialista e particularmente a FDP/PS deve-lhe um particular tributo, porque é também por ele que hoje aqui estamos e somos aquilo que somos.
Os Socialistas do Porto e os democratas tem memória e lembram que os cem anos do nascimento de Mário Cal Brandão, são um momento para recordar e de se inspirar nas vidas de Homens de H grande que, como Mário Cal Brandão, lutaram pelos fundamentos do socialismo democrático e permitiram a vida em liberdade.
Bem-haja Camarada Mário Cal Brandão.
Mário de Sousa*
*Consultor de Comunicação, Licenciado como Técnico Superior em Avaliação da Qualidade de Estudos de Impacte Ambiental e responsável pelo Pelouro do Ambiente da Secção de Residência do Partido Socialista, Bonfim, Porto.
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