sexta-feira, 30 de abril de 2010

GREVES, NA ACTUALIDADE, COMO JOGOS POLÍTICOS PARA DENEGRIR O GOVERNO, COM OS DE SEMPRE!


TEXTO PUBLICADO EM 30 DE ABRIL DE 2010 NO JORNAL "O PRIMEIRO DE JANEIRO", PÁGINA 2.


GREVES, NA ACTUALIDADE, COMO JOGOS POLÍTICOS PARA DENEGRIR O GOVERNO, COM OS DE SEMPRE!


Estão ai mais algumas greves (dos Transportes, dos Correios…), que apenas de greve tem a picardia feita por alguns elementos da CGTP que estão há anos colocados nas direcções dos sindicatos e que simultaneamente estão ao serviço do PCP, o qual (partido) os ajuda a manter nesses mesmos lugares, sejam eles obedientes para com as directivas do partido. Estando ainda esses mesmos há anos a ganhar dinheiro pagos a 100% pelos respectivos serviços públicos para estarem nos sindicatos a defender unicamente a sua (deles) pele e a colocação por tempo indeterminado nos respectivos sindicatos, através dos pagamentos dos impostos de todos os que já trabalham ou que ainda estão efectivamente no activo a descontar todos os meses.Porquê mais greves? Será porque já têm os salários em atraso há bastantes meses? Ou será porque têm os ordenados garantidos a partir do dia 20 de cada mês? Será porque o patrão (Estado) não fecha a fábrica nem vai à falência?Ou será porque o emprego é vitalício, e onde não há despedimentos e também ninguém se despede de empregos do Estado? Será porque no emprego do Estado não há ordenados em atraso? Será porque têm uma protecção na saúde para a qual pagam um valor simbólico de 1%? Será porque têm reformas a 80 e 100%? Será porque têm progressões garantidas nas suas carreiras profissionais?Pois é, meus amigos, quem tem razões para fazer greve e protestar é o sector privado, mas não pode fazer porque não tem as costas quentes como todos vós que trabalhais para o patrão Estado.No sector privado, há empresas que não têm actualizações de ordenados há vários anos e aguentam para garantir o posto de trabalho, deles, dos seus camaradas e restantes companheiros, mas ai não aparecem os sindicatos nem as centrais sindicais. Os sindicatos só apadrinham quem tem emprego para a vida e têm como principais clientes os que trabalham no patrão Estado (Função Pública). Apenas aparecem (os sindicatos) onde a situação justifica por imperativos de mobilização publicitária e em horas de abertura de telejornais.Mal vai o sindicato que não sabe preservar o seu património histórico-cultural gerado na base da honestidade e manter viva a memória de um passado com bastante valor. Onde se defendia a igualdade, a fraternidade, a liberdade, etc. de forma sincera e responsável.Sempre entendi que fazer política em democracia ou estar em cargo público é trabalhar com rigor, empenho, determinação, sinceridade e honestidade para ajudar todas as pessoas a resolver os seus problemas e proporcionar mais saúde, felicidade e bem-estar para todos. Por tudo isto é que eu trabalho todos os dias pelo Bonfim, pelo Porto e por Portugal! Sindicalismo, sempre! Mas de forma honesta que defenda a igualdade, a fraternidade e a liberdade para todos de forma sincera e responsável!



Mário Sousa - Bonfim, Porto, Portugal



quinta-feira, 22 de abril de 2010

JOAQUIM TEÓFILO FERNANDES BRAGA (24/2/1843-28/1/1924)


TEXTO PUBLICADO EM 22 DE ABRIL DE 2010 NO JORNAL "O PRIMEIRO DE JANEIRO", PÁGINA 2.

JOAQUIM TEÓFILO FERNANDES BRAGA
(24/2/1843-28/1/1924)

Joaquim Teófilo Fernandes Braga conta com muito mais páginas em todas as enciclopédias de Literatura do que nos livros sobre História de Portugal. Foi político, escritor e ensaísta português. Estreou-se na literatura, em 1859, com Folhas Verdes. Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, fixou residência em Lisboa em 1872, onde leccionou Literatura no Curso Superior de Letras (actual Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa).
Da sua carreira literária há a registar obras de história literária, etnografia (sendo de destacar as suas recolhas de contos e canções tradicionais), poesia, ficção e filosofia.
Foi escolhido para presidir ao primeiro Governo Provisório saído do 5 de Outubro de 1910 até à eleição do Dr. Manuel de Arriaga, tendo depois, por deliberação do Congresso, completado o mandato desde 29 de Maio de 1911 a 5 de Outubro de 1911. Teófilo Braga completou o mandato de Manuel de Arriaga como Presidente da República entre 29 de Maio e 4 de Agosto de 1915.
Teófilo Braga ainda jovem foi seduzido pelas ideias filosóficas de Comte e defendia as ideias positivistas. "O positivismo consolidou sobretudo a ideia de que a República não podia ser um simples golpe de Estado, e que talvez até devesse dispensar os intentos revolucionários." (José Mattoso, História de Portugal, vol. 6, p. 403) Os republicanos acreditavam que "para criar a República era preciso libertar os indivíduos das antigas sujeições. A mais grave era, sem dúvida, a sujeição espiritual. Em Portugal, em 1900, apenas 50 000 indivíduos, em cerca de 6 milhões, tinham declarado nos boletins de recenseamento não ser católicos. Para os republicanos, os espíritos dos Portugueses estavam, assim, cativos de uma organização, a igreja Católica Romana, que em 1864, condenara solenemente o liberalismo e todas as ideias modernas" (Mattoso, idem, p. 4O9). Para o historiador António Reis a actividade doutrinária de Teófilo Braga foi determinante para a consolidação do ideário republicano.
Joaquim Teófilo Fernandes Braga nasceu em Ponta Delgada, Açores, a 24 de Fevereiro de 1843, e faleceu em Lisboa, a 28 de Janeiro de 1924, filho de Joaquim Manuel Fernandes Braga, provavelmente bisneto de um dos "meninos de Palhavã", (os célebres três filhos bastardos do rei D. João V, cada um de sua mãe, que o monarca viria a perfilhar e educar) e de Maria José da Câmara e Albuquerque, da ilha de Santa Maria, também descendente das mais nobres linhagens portuguesas, que o genealogista Ferreira Serpa faz retroceder a D. Urraca do início da nacionalidade. É uma ironia do destino este republicano, laico e antimonárquico ter uma tal descendência, que muitos aristocratas não enjeitariam poder ostentar.
O pai de Teófilo, professor do liceu, enviuvou tinha o filho apenas três anos. Casará dois anos depois, em segundas núpcias, com uma senhora que tratava muito mal o pequeno Teófilo. Esta criança triste refugia-se na leitura e entra para uma oficina de tipógrafo para poder imprimir o seu primeiro livro de versas aos quinze anos. Com dificuldade consegue convencer o pai a deixá-lo ir estudar para Coimbra, o que acontece em 1861. É contemporâneo de Antero de Quental e vai participar na famosa polémica contra o academismo do escritor e pedagogo Castilho, em 1865. Teófilo Braga casa em 1868, no mesmo ano do seu doutoramento. A sua produção literária ligada à investigação histórica é enorme. Abordou, na linha do filósofo e escritor francês Michelet as origens etnográficas, linguísticas e histórico-literárias da nossa cultura. Escreveu "História da Poesia Popular Portuguesa", a "História do Teatro Português", e no campo doutrinário, "História das Ideias Republicanas em Portugal" e inúmeras obras panfletárias. Uma das mais polémicas, no ponto de vista de investigação científica foi "História do Romantismo em Portugal", em 1880. Ainda considerada obra de valor é a sua "História da Universidade de Coimbra", em quatro volumes.
Em 1872, Teófilo Braga é professor catedrático de Literaturas Modernas. É a partir desta época que se vai interessar pela doutrina positivista, dirigindo mesmo uma revista com esse nome "O Positivismo". Em 1880 é escolhido para organizar sumptuosos festejos do 3º centenário da morte de Camões, de onde sai com grande prestígio. Os seus estudos sobre costumes e tradições portuguesas, bem como toda a sua obra foi rudemente criticada na época. Diversas vezes foi considerado um plagiador. É certo que Teófilo lia muito e era pouco cuidadoso nos textos, sendo vulgar omitir as citações e apontar ideias e teorias de outros. O médico e político Ricardo Jorge é extremamente acutilante e não o poupa no livro com o título "Contra um plágio do Prof. Teófilo Braga", em 1917: E diz mesmo :"Teófilo Braga, como imagem venerada de polígrafo, lembra os ídolos indianos, coroados de muitas cabeças - é um poliocéfalo. Cada cabeça, cada sabença. Como das carrancas dum chafariz, jorra de cada bocarra um caudal de ciência estampada..." O próprio Antero de Quental com quem de início Teófilo se deu, disse que Teófilo era um "hierofante [indivíduo que se julga sabedor] do charlatanismo literário". E o historiador brasileiro Sílvio Romero chamou-lhe "Papa dos charlatães". Camilo Castelo Branco também se contava entre os seus "inimigos" declarados, mas condoeu-se dele, em 1887, quando Teófilo perdeu, num curto espaço de tempo, dois filhos. Já tinha perdido outro. Então Camilo escreve o belíssimo soneto "A maior dor humana" (Camilo perdera também uma neta que adorava).
Teófilo Braga casou com Maria do Carmo Xavier, natural do Porto, e tiveram três filhos: Joaquim, Maria da Graça e Teófilo. Mas a infelicidade perseguia-o. Perdeu como se disse os três filhos pouco depois a mulher que ele amava e de quem fala no testamento que fez em 15 de Maio de 1887 (ainda ela era viva). Através desse documento ficamos a saber que ele apenas tinha o dinheiro que ganhara com a sua docência e alguns bens que a mulher tinha trazido, quando casaram. Era pois apenas remediado. José Relvas, contemporâneo de Teófilo, foi outra das personalidades que não o poupou. Disse que o prestígio por ele alcançado não era merecido e que só quem não o lera é que o podia admirar. No entanto, Rocha Martins (revista "Arquivo Nacional", nº 113, de Março de 1934) fala numa entrevista que fizera a Teófilo, em 1916, e onde é visível uma grande admiração pelo escritor e presidente, que lhe falou da sua vida e das dificuldades que passara em Coimbra. Teófilo contou-lhe que uma vez, no Porto em casa do livreiro Moré se cruzara com Camilo que lhe estendeu a mão e que ele (Teófilo) lhe voltara as costas. E acrescentou para Rocha Martins "Estava ainda moço... Hoje não voltava as costas a ninguém... Todos os homens devem saber perdoar". A entrevista termina com um comentário filosófico sobre povo português " "O português está destinado a viver sempre. Se não, que visse eu o feitio deste povo. Nos cataclismos não se rende, nas aflições não perece. O filho do português fora de Portugal aumenta de resistência." Terá Teófilo razão e a sua mensagem servirá para os portugueses de hoje? Teófilo era um homem extremamente simples, talvez demasiado. Desde que enviuvara passara a ser um misógino enfiado na sua biblioteca. Mesmo enquanto Presidente, qualquer lisboeta o podia ver proletariamente a andar de eléctrico, com o guarda-chuva no braço ou de bengala já sem ponteira. O exercício da presidência não estaria muito na sua maneira de ser. Como homem de letras, Teófilo teve mais sorte, porque, com o passar dos anos foram-se esbatendo os aspectos negativos da sua vida e obra e hoje os autores de história da literatura consideram-no, com algumas reservas, um erudito. A última casa em que viveu situava-se num segundo andar do número 70 da Rua de Santa Gertrudes à Estrela, em Lisboa. Era uma vizinha que lhe levava, de manhã, o pequeno almoço e lhe fazia um pouco de companhia. Já tinha bastante idade. Vestia roupa muito usada e chegava ele mesmo a remendar peças de roupa branca, porque tinham sido da mulher e isso fazia-o recordar-se de bons momentos juntos. Teófilo era um homem solitário e não terá sido muito feliz. Não teve o amor de uma mãe, de um pai, perdeu os filhos e por fim até a sua companheira partiu antes dele. Embora anticlerical, Teófilo Braga dizia, com orgulho, que impedira António José de Almeida de apagar o nome da Rainha D. Leonor do Hospital das Caldas, pois como dizia, "é um perigo as intervenções reformadoras sem conhecimento das origens venerandas, cuja tradição nunca deve ser apagada". No seu testamento deixou expresso que queria um enterro civil, sem cerimónia. Morreu com 81 anos, a 28/1/1924.

Mário de Sousa - Bonfim, Porto, Portugal

segunda-feira, 19 de abril de 2010

BERNARDINO MACHADO (28/3/1851-29/4/1944): POLÍTICO DO SOCIALISMO REPUBLICANO





TEXTO PUBLICADO EM 19 DE ABRIL DE 2010 NO JORNAL "O PRIMEIRO DE JANEIRO", PÁGINA 2.


CELEBRAR O CENTENÁRIO DA REPÚBLICA PORTUGUESA COM NOME GRANDE


BERNARDINO MACHADO (28/3/1851-29/4/1944):

POLÍTICO DO SOCIALISMO REPUBLICANO

Bernardino Luís Machado Guimarães era em tudo (menos no ideário republicano) o oposto de Teófilo Braga: bonito, aprumado, rico, pai de família, vaidoso, cavalheiro, ambicioso. Tratava os seus piores inimigos por "meu queridíssimo amigo". Nasceu no Rio de Janeiro em 28 de Março de 1851, filho de pai português António Luís Machado Guimarães e de mãe brasileira, Praxedes de Sousa Ribeiro Guimarães. A família regressou a Portugal em 1860 e vai viver para uma povoação do concelho de Vila Nova de Famalicão chamada Joanes. O pai receberá o título de 1º Barão de Joanes. Bernardino Machado tinha uma figura aprumada, sempre com o farto bigode e barba bem aparada, que no fim da vida, já muito velhinho, deixava crescer como uma "trepadeira selvagem." Ao atingir a maioridade, em 1872, Bernardino Machado optou pela nacionalidade portuguesa. Casou, em 1882, com Elzira Dantas, filha do Conselheiro Miguel Dantas Gonçalves Pereira, e teve dela 18 filhos. A mulher de Bernardino Machado viria a ser uma grande colaboradora em tudo e também na sua vida de estadista. Passou com ele as agruras de dois exílios e, durante a 1ª Grande Guerra, foi presidente da Cruzada da Mulheres Portuguesas, que apoiou activamente o Corpo Expedicionário Português em França. Duas filhas suas também participaram. Ela viria a escrever para os netos, em 1934, um livro de Contos. Bernardino Machado foi sempre um lutador, sem deixar de ser galante, tirava o chapéu a toda a gente que o cumprimentava. Há inúmeras caricaturas sobre este curioso hábito do 3º Presidente da 1ª República, portuguesa como da sua numerosa prole, que inspirou inúmeros desenhos a Rafael Bordalo Pinheiro e a Francisco Valença, entre outros. Em 1866 Bernardino Machado matriculou-se na faculdade de Matemática, em Coimbra, e no ano seguinte em Filosofia, tendo-se doutorado com apenas vinte e oito anos nessas duas especialidades. Foi, pois, um aluno brilhante e depois professor. Deputado do Partido Regenerador entre 1882 e 1886 e Par do Reino em 1890, Ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria, desde Fevereiro a Dezembro de 1893, teve uma acção muito positiva na reformulação do ensino profissional e inovou os sectores da agricultura, comércio e indústria (escreveu mesmo "A Agricultura", em 1899). Desiludido com a Monarquia aderiu ao Partido Republicano Português, em 1903. É a partir desta fase que no seu Partido luta para que este "seja um partido republicano profundamente socialista". No ano seguinte chega ao Directório. Implantada a República, na qual não participa directamente, será no Governo Provisório Ministro dos Negócios Estrangeiros, por sugestão de Afonso Costa, onde teve uma acção importante no reconhecimento da nova república por parte dos países estrangeiros. Renovou a aliança com a Inglaterra e organizou o primeiro Congresso de Turismo. Amigo do Presidente do Brasil levou a cabo acordos e elevou as Legações no Rio de Janeiro e Lisboa à categoria de Embaixadas, tendo sido o primeiro embaixador de Portugal no Brasil, em 1 de Novembro de 1913. Bernardino Machado, que aderira à Maçonaria, era já Grão-mestre em Julho de 1895. Primeiro Ministro em 1913, num período de lutas partidárias, vem a ser eleito Presidente da República em 6 de Agosto de 1915. Durante a 1ª Grande Guerra defende a participação de Portugal no conflito. A Alemanha declarou guerra a Portugal em 9 de Março de 1916. Bernardino Machado tentou um acordo de tréguas (uma "União Sagrada") entre os três partidos perante o tão grave período da Guerra, mas sem total sucesso. Foi o general Norton de Matos quem organizou o Corpo Expedicionário cujos contingentes embarcaram para França em Janeiro de 1917. O período em que Bernardino Machado foi Presidente da República foi de grande agitação social. Desde o início da Guerra, em 1914, que começaram a escassear produtos de primeira necessidade. Quase não havia farinha, nem carvão. Lisboa ficou sem eléctricos, sem luz e sem polícia nas ruas depois da 11 horas da noite. O chefe do Governo era Afonso Costa. E é contra este político que se vão avolumando críticas e ódios. Na sua ausência (de Bernardino Machado), em Londres, um movimento revolucionário liderado por Sidónio Pais, acampou literalmente na Rotunda (hoje Rotunda do Marquês de Pombal) em 5 de Dezembro de 1917 para derrubar o Governo. A população esfomeada aproveitou para assaltar as lojas. Sidónio toma então conta do poder. Demite o Presidente e, quando Afonso Costa regressa do estrangeiro, é preso no Porto. Em Lisboa, a casa de Afonso Costa é saqueada e os móveis lançados à rua. Afonso Costa parte, com familiares, para um exílio de onde nunca mais voltou. Sidónio Pais faz-se eleger Presidente da República, por sufrágio universal, em Abril de 1918 e à revelia da Constituição de 1911. Bernardino Machado recusou resignar à Presidência, mas foi detido no Palácio de Belém durante uns dias. Depois é-lhe imposto o exílio. Parte para França no Natal de 1917, acompanhado de parte da família, onde irá perder uma filha e onde não desiste de lutar pelo retorno à legitimidade da vida política Portuguesa. Regressará em 1919.

As eleições de Novembro de 1925 dão a vitória aos democratas. O Congresso elege , agora sim, Bernardino Machado. Sobre a sua vida já muito se disse na primeira parte deste artigo. Joel Serrão retratou-o assim no "Dicionário da História de Portugal" (p. 867): "Político dos mais notáveis da 1ª República Portuguesa, Bernardino Machado foi um cidadão exemplar no rigoroso cumprimento dos seus deveres e na defesa intransigente dos seus direitos". Depois de um primeiro mandato na presidência, de 6 de Agosto de 1915 a 5 de Dezembro de 1917, Bernardino Machado experimentou um longo e forçado exílio, durante o qual recusou transmitir os poderes presidenciais aos vencedores da revolução sidonista de 5 de Dezembro de 1917. Este seu segundo mandato foi curto. Apenas de 11 de Dezembro de 1925 ao eclodir do movimento do 28 de Maio de 1926. A situação financeira do País era bastante melhor do que durante o seu primeiro mandato, mas o clima político não era nada calmo. Houve neste período um problema com os tabacos, passando para o controlo do Estado. A 28 de Maio, em Braga, o general Gomes da Costa revolta-se "contra as quadrilhas partidárias" e em Lisboa foi organizada uma junta revolucionária chefiada por Mendes Cabeçadas, a quem Bernardino Machado acaba por entregar o poder, como explica em 1926: "Quando transmiti os poderes presidenciais, fi-lo a um chefe de governo, de coração republicano, que eu sabia bem que se propunha restaurar o mais breve possível a ordem constitucional. Aos seus sucessores eu não os transmitiria". Bernardino Machado teve plena consciência de que a República estava em perigo. Mas era tarde de mais. Jaime Cortesão elogia-o deste modo: "Ele não foi um manipanço vago e solene, de capacete amarrado na cabeça. A sua legendária chapelada, que se diria ir do palácio de Belém até ao fundo dos campos de Portugal, ficou como exemplo democrático do respeito do homem pelo homem".
 

ACTIVIDADE PÓS-PRESIDENCIAL

Depois de entregar os poderes presidenciais ao almirante Mendes Cabeçadas em 31 de Maio de 1926, manteve-se em Portugal até às derrotas das revoltas de 3 e 7 de Fevereiro de 1927, sendo então novamente expulso do País. Exilado primeiro na Galiza e posteriormente em França, continuou a lutar contra o regime vigente em Portugal.

Foi autorizado a regressar em Junho de 1940, na altura em que as forças nazis invadem a França. Proibido de residir em Lisboa, fixou residência no Alto Douro onde veio a falecer, em 28 de Abril de 1944, dia do 55.º aniversário de Oliveira Salazar.


OBRAS PRINCIPAIS
A sua obra literária é vasta e reconstitui o percurso das diversas actividades a que o autor se dedicou. Assim, A Introdução à Pedagogia, escrito em 1892, O Ensino, de 1898, O Ensino Primário e Secundário, de 1899, e O Ensino Profissional, de 1900, estabelecem as conclusões acerca da sua experiência pedagógica.

Pela Liberdade, de 1900, Da Monarquia para a República, 1903, Conferências Políticas, 1904, Pela República, 1908, A Irresponsabilidade Governativa e as Duas Reacções Monárquica e Republicana, de 1924, reflectem o seu pensamento político.

O Ministério das Obras Públicas, 1893, A Indústria, 1898, A Agricultura, 1900, Os Meios de Comunicação e o Comércio, 1903, No Exílio, 1920, são exemplos que vêm corroborar aquilo que se acaba de dizer.
 

NOTA DE REFERÊNCIAS:

-Joel Serrão (dir.) Pequeno Dicionário da História de Portugal, Lisboa, Iniciativas Editoriais, 1976.
-Dr. Jorge Sampaio, Fontes da Presidência da República Portuguesa, Lisboa, 1996/2006.


Mário de Sousa - Bonfim, Porto, Portugal

mario.sousa@europe.com

quarta-feira, 14 de abril de 2010

SOCIALISMO DE ESQUERDA DEMOCRÁTICA E DA SOCIAL-DEMOCRACIA: UM PARTIDO PARA TODOS!



TEXTO PUBLICADO EM 14 DE ABRIL DE 2010 NO JORNAL "O PRIMEIRO DE JANEIRO", PÁGINA 2.

SOCIALISMO DE ESQUERDA DEMOCRÁTICA E DA SOCIAL-DEMOCRACIA: UM PARTIDO PARA TODOS!
Ao longo de muitos anos, o Partido Socialista sofreu uma grave crise de recrutamento de jovens quadros. O período cavaquista deixou o PS na berma da conquista de investigadores, docentes, gestores, médicos, advogados, economistas e engenheiros, formados nos finais da década de 80 e inícios da década de 90, do século passado. Esses dez anos criaram, no PS, um foço geracional de que ainda hoje nos ressentimos.
Muitos dos que vieram posteriormente e ocupam lugares de destaque nestes tempos, não sabem o duro que foi.
A nossa vitória eleitoral em 1995 e o regresso ao poder em 2005, bem como os debates dos Estados Gerais e das Novas Fronteiras, permitiram a conquista e reconquista de muitos e relevantes militantes para as nossas fileiras. Acontece que o seu enquadramento e a sua inclusão na vida do partido, têm sido muito difíceis.
Para quem exerce funções no Pelouro do Ambiente no secretariado da secção de residência da freguesia do Bonfim, na cidade do Porto, continua a ser, reconfortante, encontrar camaradas de várias localidades que já não têm que provar nada a ninguém, nas suas profissões e actividades e que querem, unicamente, dar o seu contributo cívico na actividade diária do nosso partido. O que tem sido pouco interessante, é verificar a sua pronta resposta quando questionados sobre a vida partidária – não nos ouvem, dizem!
O PS está hoje na Governação do País. Essa circunstância faz com que a atenção ao partido, à sua actividade do dia-a-dia e ao debate interno, sejam colocadas em segundo plano. Nós sabemos que é assim, quase sempre. E também sabemos que a grave situação que o país vive, com a consequente exigência da governação, deixa pouca margem para o trabalho militante. Acontece que a actual conjuntura política, de exigência e de combate, não pode, não deve, libertar o partido de uma atitude mais presente e mais interventiva.
É neste esforço de retaguarda do Governo e de permanente reinvenção do nosso partido, que importa abrir o caminho para as novas gerações.
A Fundação ResPublica tem desenvolvido um excelente trabalho de forma muito meritória, formando e promovendo o debate. Seria bom que a sua actividade se alargasse a todo o país. Mas não podemos deixar nas mãos da Fundação o trabalho de campo que urge fazer.
Três áreas se apresentam para os próximos quatro anos. 1ª O combate autárquico; 2ª O reforço da nossa participação social; 3ª A reinvenção do nosso espaço ideológico.
No combate autárquico importa que se iniciem os trabalhos para que o nosso partido possa ser, em 2013, o grande, o maior, partido do poder local. Se olharmos para as alterações verificadas em 2009 e para os municípios que mudarão de presidente, no final do presente ciclo, fruto da limitação de mandatos, teremos um grande espaço de crescimento e de afirmação. Esse trabalho terá que ser desenvolvido, com paciência e cuidado, dando campo de afirmação aos novos quadros.
Num tempo em que o contrato social se desgradua, o sindicalismo se esvai, o movimento associativo definha e está cada vez mais dependente do Estado, importa que o PS se afirme nas estruturas empresariais, sindicais ou de classe. Que se envolva nos movimentos de bairro, no voluntariado e na defesa do meio ambiente.
Que se esforce para voltar a recrutar nas academias do secundário e do superior. Trabalho ciclópico, dirão! Trabalho essencial para o futuro, consideramos nós.
Por fim, o PS não pode exaurir-se na actividade governativa que é, cada dia que passa, mais delicada. Num período em que as crises mundiais se sucedem, não só a financeira que deu lugar à económica, mas principalmente as que põem em causa o equilíbrio territorial e as que decorrem da descompensação demográfica e dos desequilíbrios geoestratégicos, o PS tem que regressar, de novo, à discussão sobre o papel do socialismo de esquerda democrática e da social-democracia. E essa discussão não pode, não deve, ser com cartas marcadas, sob pena de iniciarmos o caminho da nossa descoloração.
Perspectivando o futuro, conscientes da nossa responsabilidade como maior partido português, chegou o momento de olharmos para nós e de fazermos o caminho.
Mário de Sousa* - Bonfim, Porto, Portugal
*Consultor de Comunicação

terça-feira, 13 de abril de 2010

MANUEL TEIXEIRA GOMES (27/5/1860-18/10/1941): UM HOMEM DE VIDA SINGULAR!



TEXTO PUBLICADO EM 13 DE ABRIL DE 2010 NO JORNAL "O PRIMEIRO DE JANEIRO", PÁGINA 2.


CELEBRAR O CENTENÁRIO DA REPÚBLICA PORTUGUESA COM NOME GRANDE

MANUEL TEIXEIRA GOMES (27/5/1860-18/10/1941): UM HOMEM DE VIDA SINGULAR!

Manuel Teixeira Gomes, estadista e escritor, natural de Portimão, no ano em que se comemora o 150.º aniversário do seu nascimento.
Foi o sétimo presidente da Primeira República Portuguesa, cargo de que toma posse a 5 de Outubro de 1923 e resigna do seu mandato em 11 de Dezembro de 1925, justificando com a vontade de se dedicar em exclusivo à literatura.
É de Paris que Afonso Costa sugere a candidatura de Manuel Teixeira Gomes, que foi eleito em 6 de Agosto de 1923. Mais uma vez Bernardino Machado perdia a corrida às presidenciais.
Manuel Teixeira Gomes parece uma figura saída do génio de um Hugo Pratt. E podia ter sido o herói de uma das suas bandas desenhadas. A sua vida é passada em vários países, tendo acabado quase como Corto Maltese, não a guerrilhar mas a escrever, nas cálidas areias argelinas.
Manuel Teixeira Gomes nasceu em Vila Nova de Portimão, em 27 de Maio de 1860, filho de José Líbano Gomes e Maria da Glória Teixeira Gomes.
Nasceu num meio burguês e rico, numa casa espaçosa e cheia de conforto, sol e flores. Foi educado pelos pais até entrar no colégio de São Luís Gonzaga, em Portimão. Aos 10 anos, os pais mandam-no para um seminário de Coimbra. Depois passa para a Universidade de Coimbra, onde frequenta medicina, mas perde-se na boémia da Lusa Atenas, cedo desiste do curso e, contrariando a vontade do pai, muda-se para Lisboa, onde pertencerá ao círculo de Fialho de Almeida e João de Deus. Mais tarde, e por intermédio de Fialho de Almeida conhecerá outros vultos importantes da cultura literária da época, como Marcelino Mesquita, Gomes Leal, António Nobre e outros. O pai convenceu-se então que era melhor continuar a dar-lhe a mesada e deixá-lo viver a sua vida de rapaz, já com forte tendência para as artes: literatura, pintura e escultura. Seguiu a literatura, mas não deixou de admirar as outras artes, tornando-se amigo de grandes mestres, como Columbano Bordalo Pinheiro ou Marques de Oliveira.
Após ter cumprido o serviço militar, vai viver para o Porto, onde acamarada com Sampaio Bruno (ia à padaria do pai dele comer uns bolinhos), Basílio Teles, Soares dos Reis e outros. Com Joaquim Coimbra e Queirós Veloso publica o jornal de teatro Gil Vicente. É neste período que começa a colaborar em revistas e jornais, entre eles "O Primeiro de Janeiro", “Folha Nova” e "A Luta", (este de Lisboa), propriedade de Brito Camacho.
O pai era produtor de frutos secos, nomeadamente amêndoa e figo, e é nessa qualidade que Manuel viaja por países do Mediterrâneo e quase toda a Europa. O seu gosto pela arte e cultura literária fazem-no travar conhecimento com nomes importantes da cultura europeia. "Fiz-me negociante, ganhei bastante dinheiro e durante quase vinte anos viajei, passando em Portugal poucos meses". ("Miscelânea").
Aos 39 anos, Manuel Teixeira Gomes vai amar uma bela jovem algarvia de quem terá duas filhas. Chamava-se Belmira das Neves e nasceu numa família de pescadores, o que, dado os Teixeira Gomes serem uma família importante de Portimão, terá impedido o casamento. Hoje levantam-se vozes sobre as suas orientações afectivas.
Como Teófilo, também Teixeira Gomes marcou mais a literatura do que a política. Em 1899 publica "Inventário de Junho", em 1904 "Agosto Azul" e em 1909 "Gente Singular". A sua vida política ao serviço da República começa em 1911 e prolonga-se até 1918, no espinhoso cargo de Ministro dos Estrangeiros em Londres. Em circunstâncias adversas, visto as verbas disponíveis para o seu cargo serem escassas, Manuel Teixeira Gomes paga do seu bolso a um secretário inglês para o ajudar nas tarefas quotidianas.
Fazer com que a nossa velha aliada (Inglaterra) reconhecesse a jovem e ainda pouco estável República Portuguesa não era tarefa fácil, mesmo para um homem de grande cultura como Manuel Teixeira Gomes. Isto porque a família real britânica se encontrava ligada por laços familiares e amizade à última rainha portuguesa, Dona Amélia, e ao último rei, seu filho, D. Manuel II, então exilados no palácio de Richmond.
Mas a simpatia e "charme" de Manuel Teixeira Gomes eram tais que, ao fim de muitos anos em Londres, já a família real o convidava para o palácio com toda a naturalidade. Esteve no Palácio de Balmoral, na Escócia, e sabe-se que a rainha Alexandra o convidou para lhe decorar o gabinete oriental do Palácio de Buckingham.
Quando Sidónio Pais ocupa a Presidência, chama-o a Portugal e demite-o do cargo, no início do ano de 1918. Então Manuel Teixeira Gomes fixa-se novamente no Algarve, como administrador de propriedades.
Toda a sua obra literária está repassada de figuras algarvias (é considerado o escritor do Algarve). A primeira namorada era de Ferragudo, personagens suas são de Aljezur ou Bensafrim, "Sabina Freire" é uma viúva de Portimão. De 1919 a 1923 voltará a ocupa o cargo de diplomata em Madrid e Londres.
Manuel Teixeira Gomes é uma excepção no panorama dos presidentes da 1ª República Portuguesa. Todas as noites jogava às cartas com o seu secretário. Quanto a mim acho-o um "Corto Maltese" (com mais uns anos) que passa pelo Palácio de Belém até concluir que a tarefa não era para ele. Diria "A política longe de me oferecer encantos ou compensações converteu-se para mim, talvez por exagerada sensibilidade minha, num sacrifício inglório. Dia-a-dia, vejo desfolhar, de uma imaginária jarra de cristal, as minhas ilusões políticas. Sinto uma necessidade porventura fisiológica, de voltar às minhas preferências, às minhas cadeiras e aos meus livros“. Do Prefácio do livro de Joaquim António Nunes “Da Vida e da Obra de Teixeira Gomes", Lisboa, 1976.
Resigna ao cargo em 11de Dezembro de 1925 e a 17 de Dezembro desse ano embarca no paquete grego Zeus rumo a Oran, na Argélia. Em 1931, instalou-se em Bougie, na Argélia, onde viveu os últimos dez anos de sua vida num auto-exílio voluntário, sempre em oposição ao regime de Salazar, nunca regressando em vida a Portugal.
Continuou a escrever para o jornal “O Diabo” e para a revista "Seara Nova", para os amigos, talvez para as filhas. Morreu em 18 de Outubro de 1941 em Bougie, na Argélia, no quarto número 13, do Hotel l`Étoile e só em 16 de Outubro de 1950, a pedido da família, os seus restos mortais voltaram à pátria, para o cemitério de Portimão, transportados a bordo do contra torpedeiro Dão. As filhas Ana Rosa Teixeira Gomes Calapez e Maria Manuela Teixeira Gomes Pearce de Azevedo estiveram presentes na cerimónia de regresso.
Como Presidente, ocupou o cargo entre 5 de Outubro de 1923 e 11 de Dezembro de 1925.
Norberto Lopes, no prefácio de "O Exilado de Bougie", escreveu: "Pudera eu traçar-lhe o perfil que fosse digno da sua personalidade requintada, sóbria, simples como a de um grego do século de Péricles, magnânimo e brilhante como a de um príncipe florentino da Renascença".
 
Nota de Referências:
-Fonte: assento de baptismo nº 89, de 11-06-1860, freguesia de Portimão, Arquivo Distrital de Faro.
-Urbano Tavares Rodrigues. Manuel Teixeira Gomes (Introdução ao estudo da sua obra). Portugália Editora, Lisboa, 1950.
-Do prefácio do livro de Joaquim António Nunes “Da Vida e da Obra de Teixeira Gomes“, Lisboa, 1976
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-Norberto Lopes, no prefácio de “O Exilado de Bougie”.
Mário de Sousa* - Bonfim, Porto, Portugal
*Consultor de Comunicação

quinta-feira, 8 de abril de 2010

ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO E POLÍTICA DE CIDADES COMO PRIORIDADE!

TEXTO PUBLICADO EM 8 DE ABRIL DE 2010 NO JORNAL "O PRIMEIRO DE JANEIRO", PÁGINA 2.

NO ORÇAMENTO DO ESTADO PARA 2010
ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO E POLÍTICA DE CIDADES COMO PRIORIDADE!
O Orçamento do Estado para 2010, no domínio de Ordenamento do Território e da Política de Cidades, no cumprimento do Programa do Governo, apresenta seis vectores estratégicos: a aposta na reabilitação urbana; a renovação da Política de Habitação; a execução da Política de Cidades; uma nova Lei dos Solos; a melhoria dos Sistemas de Informação e Planeamento Territorial; e a implementação da Estratégia Nacional de Gestão da Zona Costeira.
No âmbito dos sistemas de planeamento, para além da preparação de uma nova Lei dos Solos, prevê-se para 2010 a elaboração das orientações estratégicas de âmbito nacional para a delimitação da REN e a conclusão do planos regionais do ordenamento do território. No que diz respeito à informação territorial, geográfica e cadastral, salienta-se a consolidação do processo de cobertura cadastral do país, a instalação do Observatório do Ordenamento do Território e do Urbanismo, a consolidação do Sistema Nacional de Informação Geográfica e a continuação da implementação do Sistema Nacional de Informação Territorial. Já na Política de Cidades, estabelece-se como prioridade acelerar a execução das operações da Política de Cidades Polis XXI, já aprovadas no âmbito do QREN, que somam mais de 800 milhões de euros.
Mas este Orçamento do Estado apresenta, como marca política determinante, uma aposta estratégica clara no investimento governamental, na Política do Litoral e na reabilitação urbana e Política de Habitação. A reabilitação urbana assume uma importância estratégica fundamental no contexto da Política de Cidades, desenvolvimento e competitividade do nosso território. Para 2010 está previsto o arranque do Programa de Apoio à Reabilitação Urbana 2010-2015, que tem como meta multiplicar por cinco a média anual de fogos reabilitados com o apoio do Estado, procurando por esta via estimular a economia e o emprego. Prevê-se ainda a operacionalização de Fundos de Desenvolvimento Urbano, que serão um instrumento essencial de financiamento das operações de reabilitação urbana previstas no regime jurídico da reabilitação urbana. Na Política de Habitação, prevê-se a aprovação do Plano Estratégico da Habitação que apresenta duas linhas de actuação: Reabilitação do Património Habitacional Degradado; e Desenvolvimento do Arrendamento Urbano.
Quanto à Política do Litoral, o substancial crescimento da dotação orçamental do Ministério do Ambiente e Ordenamento do Território afecta a investimentos no litoral, a que acrescem cerca de 53 milhões de euros dos quatro Polis do Litoral, reflectem a prioridade política da consideração do litoral como uma das áreas essenciais da intervenção do Governo, através do desenvolvimento de uma política integrada e da implementação dos Planos de Ordenamento da Orla Costeira.
Em suma, o Orçamento do Estado para 2010, no domínio do Ordenamento do Território e Política de Cidades, corporiza prioridades políticas claras e soluções objectivas para os problemas do país.
Mário de Sousa - Bonfim, Porto

terça-feira, 6 de abril de 2010

MÁRIO CAL BRANDÃO (25/3/1910-21/10/1996): DEMOCRATA, REPUBLICANO, COMBATENTE PELA LIBERDADE E UM BALUARTE DO PARTIDO SOCIALISTA



TEXTO PUBLICADO EM 6 DE ABRIL DE 2010 NO JORNAL "O PRIMEIRO DE JANEIRO", PÁGINA 2.

CELEBRAR O CENTENÁRIO DA REPÚBLICA PORTUGUESA COM NOME GRANDE
MÁRIO CAL BRANDÃO (25/3/1910-21/10/1996): DEMOCRATA, REPUBLICANO, COMBATENTE PELA LIBERDADE E UM BALUARTE DO PARTIDO SOCIALISTA!
Em primeiro lugar quero agradecer ao meu presidente Distrital do Partido Socialista do Porto, o meu camarada e amigo Renato Sampaio (camarada e amigo do protagonista desta história verídica), alguns dos elementos para a feitura desta pequena e simples homenagem a um grande português.
Mário Cal Brandão teria hoje cem anos se ainda estivesse entre nós. Teria a idade da República!
Mário Cal Brandão construiu a sua vida a lutar pela liberdade e pela democracia trilhando os caminhos difíceis da resistência durante a negra noite da ditadura.
Nasceu no Porto em 1910, filho de pai galego radicado nesta cidade, após a frequência dos Liceus Rodrigues de Freitas e Alexandre Herculano e depois de terminar o ensino liceal matriculou-se em Direito na cidade de Coimbra, e em Coimbra foi eleito para os corpos gerentes do Jardim Escola João de Deus, na cidade do Porto ocupou durante muito tempo o cargo de provedor do Asilo de S. João, foi advogado e faz parte dos grandes vultos que ficaram na história da luta contra a ditadura e assim ajudou a construir o Portugal livre e democrático de Abril. É memória viva do PS que com Mário Soares, António Macedo, Artur d`Oliveira Valença, José Luís Nunes, Jaime Gama e tantos outros, ajudou a fundar. Depois de terminar o curso em Lisboa com a particularidade de ter feito o quarto ano na semiclandestinidade, regressado do exílio galego. Inicia a sua vida profissional com escritório de advogado no Porto (a toca), que fundara com António Macedo, Eduardo Ralha e seu irmão Carlos, e aqui passará a ser ponto de convergência de oposicionistas. A sua casa passou a ser também para muitos dos que se tinham de esconder da PIDE o local onde sempre encontravam abrigo. Beatriz Cal Brandão tornou-se a matriarca de grandes vultos da democracia lá acolhidos.
Uma vida de homem de forte carácter, firmes convicções, justo e de um comportamento ético exemplar, perseguido mas que nunca se aninhou no comodismo.
Aos 18 anos já a PIDE o perseguia, prendia e exilava por, enquanto estudante universitário, desenvolver uma importante acção na luta estudantil, de 1928 a 1931, tendo-lhe sido fixada residência em Estarreja, por implicação no movimento reviralhista. Daqui parte para o exílio em Espanha. A ditadura nunca foi capaz de o vergar porque a força e os princípios deste Homem não vergaram. Em Coimbra instalando-se na República “Das Águias” fundada pelo seu irmão Carlos Cal Brandão e inscreve-se na loja maçónica “Revolta”, foi dirigente do Centro Académico Republicano e da Associação Académica. Termina o curso em Lisboa com a particularidade de ter feito o quarto ano na semiclandestinidade. Na resistência de que fez divisa da sua vida, funda a Editorial Horizonte, a Cooperativa Coordenadas e participa nas campanhas da Oposição Democrática. Integra a comissão distrital do MUD e empenha-se activamente na candidatura à presidência da República de Quintão Meireles. Nas eleições presidenciais de 1949, foi membro constituinte da comissão do Porto da candidatura do general Norton de Matos, e em 1958 apoiou a candidatura de Humberto Delgado juntamente com Artur d`Oliveira Valença, Artur Santos Silva (pai) e tantos outros, sendo novamente preso.
A partir de 1964, foi co-fundador da Acção Socialista Portuguesa, embrião do que viria a ser o Partido Socialista e durante os anos da ditadura conspirou sempre e sem descanso para a derrubar.
Mário Cal Brandão, sempre ao lado de grandes vultos da resistência como Artur d`Oliveira Valença, Vitorino e José de Magalhães Godinho, Gustavo Soromenho, António Macedo, Artur Santos Silva (pai), Paulo Quintela, Moura Dinis, Afonso Costa Filho e Teixeira Ribeiro, funda o Núcleo de Doutrina e Acção Socialista.
Combateu sempre das mais variadas maneiras e em muitas organizações pela liberdade e pela democracia e isto trouxe-lhe por 15 vezes a passagem pela prisão, três julgamentos sumários e ainda foi defensor nos Tribunais Plenários, de muitos dos que eram acusados pela ditadura.
Viu nascer a II República, viveu Abril e permanentemente nos lançava avisos no sentido de que existem princípios e valores de que nunca devemos abdicar.
Após o 25 de Abril continuou a sua luta pelos valores em que sempre acreditou e participa activamente na construção e consolidação da II República, como primeiro governador civil do Distrito do Porto, como deputado constituinte e como deputado da República é eleito em todas as legislaturas até 1991.
Foi um dos fundadores do Partido Socialista juntamente com sua esposa Beatriz Cal Brandão, e foi agraciado pelo rei de Espanha com a Ordem de Mérito Civil e pelo Presidente da República Portuguesa com a Ordem Militar de Cristo.
De Mário Cal Brandão fica-nos os ensinamentos de que a democracia se constrói sempre e a cada momento, que a liberdade é um bem que jamais poderá ser posto em causa e os caminhos da recta cidadania o guião que nos deve conduzir a uma sociedade mais justa, fraterna e solidária.
Portugal, o Partido Socialista e particularmente a FDP/PS deve-lhe um particular tributo, porque é também por ele que hoje aqui estamos e somos aquilo que somos.
Os Socialistas do Porto e os democratas tem memória e lembram que os cem anos do nascimento de Mário Cal Brandão, são um momento para recordar e de se inspirar nas vidas de Homens de H grande que, como Mário Cal Brandão, lutaram pelos fundamentos do socialismo democrático e permitiram a vida em liberdade.
Bem-haja Camarada Mário Cal Brandão.
Mário de Sousa*
*Consultor de Comunicação, Licenciado como Técnico Superior em Avaliação da Qualidade de Estudos de Impacte Ambiental e responsável pelo Pelouro do Ambiente da Secção de Residência do Partido Socialista, Bonfim, Porto.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

AMBIENTE E CIDADANIA NA PORTUENSE CIDADE!



TEXTO PUBLICADO EM 5 DE ABRIL DE 2010 NO JORNAL "O PRIMEIRO DE JANEIRO", PÁGINA 2.


AMBIENTE E CIDADANIA NA PORTUENSE CIDADE!

Neste novo século reconhece-se toda uma necessidade de haver uma profunda mutação cultural de todos os participantes nos processos de gestão do ambiente, para atingir objectivos comuns tão exigentes como o tão proclamado e necessário desenvolvimento sustentável.
É pois, tido como prioritário promover a participação da população, e reunindo os vários segmentos da sociedade para debater questões, decidir programas para trabalho, e por conseguinte, contribuir para a formulação de estratégias ambientais para alimentar o próprio processo de decisão sobre as mesmas.
É muito urgente e prioritário a definição de metas de envolvimento e participação das populações nos diferentes programas de gestão ambiental definindo instrumentos, formas de actuação e princípios nas: promoções de programas de informação e educação ambiental; apoios e acompanhamentos em processos de reclamações e consultas públicas (como por exemplo, nas definições de planos de acções).
O ambiente urbanístico tem como objecto o território globalmente entendido e como finalidade elecífica assegurar a coordenação de todos os interesses que interferem normalmente com o território.
Nos últimos anos assistiu-se a um enorme esforço dos municípios para dotar as cidades de Planos Urbanísticos que estabelecem orientações, instrumentos e soluções concretas que permitem guiar a gestão no ordenamento dos territórios municipais. Simultaneamente, os planos permitem dar respostas mais concretas e efectivas às questões levantadas pelos cidadãos e pelos agentes que pretendem investir nas cidades. Esses esforços deveriam ser continuados e competirá às revisões dos Planos Directores Municipais unificar numa estratégia comum a Política Urbanística no seu conjunto e em cada área das cidades em particular.
Contudo é necessário dar, nesta matéria, um salto em frente. É necessário instituir um Planeamento Participativo, guiado por objectivos, e revolucionar os métodos de gestão urbanística, aproximando-a do terreno para ganhar maior capacidade operativa, transparência e eficácia.
Posto isto, um dos primeiros objectivos que devemos fixar, até porque não é novo, é o incentivo aos PDM`s, essenciais pela evolução na utilização do território e pela eventual, e mais que natural, desadaptação à realidade actual. Não é admissível que este trabalho se prolongue no tempo como os das primeiras geração de PDM`s relativamente aos quais sobejam as desculpas para o atraso.
Mas, se os PDM`s são instrumentos fundamentais para a fixação de parâmetros que, aos mais diversos níveis, permitem, de um modo geral, um desenvolvimento articulado dos interesses que interferem com o território, também não é menos certo que eles não garantem, no essencial, a qualidade do habitat dos cidadãos, ou melhor, não têm uma acção eficaz relativamente a núcleos do território que levantam problemas por vezes relativos à sua própria gestão. Torna-se, pois, indispensável fomentar a elaboração de Planos de Urbanização Regional e de Pormenor que permitirão os desenhos de cidades, valorizando as suas potencialidades e preservando as suas memórias que através das quais é possível concretizar um outro objectivo primordial – o da reconstrução do Parque Habitacional dos centros urbanos (nas cotas baixa e alta) de modo a evitar a sua terciarização.
Este trabalho não será, contudo, possível se não for agilizado todo o procedimento relativo aos Planos Municipais de Ordenamento do Território cuja complexidade actual, e não obstante a existência de legislação recente, desincentivam a sua elaboração o fazem com que se arrastem no tempo acarretando todo o tipo de problemas, designadamente de ordem legal.
Ainda no que respeita ao ordenamento do território deverá ser feito um planeamento intermunicipal, sobretudo entre os concelhos limítrofes, que há-de permitir a superação de incompatibilidades, promover a concentração de usos e a potencialização de recursos e infra-estruturas.
As ideias aqui esplanadas não são novas mas a sua concretização pode induzir a uma realidade urbanística completamente diferente.
E já agora, não se esqueçam por favor de neste novo Plano Director Municipal para a Cidade do Porto que está previsto para toda a cidade de incluir nele toda a parte alta da cidade, principalmente o mais alto e principal Miradouro da Cidade do Porto (paredes meias com os depósitos de água da cidade) no cimo da Rua do Monte do Tadeu e junto à Rua da Alegria mesmo em frente da Rua das Doze Casas.
Mário de Sousa*

*Consultor de Comunicação, Licenciado como Técnico Superior em Avaliação da Qualidade de Estudos de Impacte Ambiental e responsável pelo Pelouro do Ambiente da Secção de Residência do Partido Socialista, Bonfim, Porto.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

O PONTO MAIS ALTO DE TODA A CIDADE DO PORTO, NA FREGUESIA DO BONFIM



CRÓNICAS PORTUENSES

O PONTO MAIS ALTO DE TODA A CIDADE DO PORTO, NA FREGUESIA DO BONFIM

Toda esta zona habitacional é nada mais, nada menos do que a zona mais alta existente em toda a cidade do Porto. Estamos a falar da zona habitacional do Monte do Tadeu e do Monte dos Congregados.

A história desta zona habitacional remonta ao tempo dos Padres e Frades da Congregação do Oratório de Regra em honra de S. Filipe de Néri, que estabeleceram a sua casa na cidade do Porto, no ano de 1680, mesmo ao pé da estação de S. Bento, num espaço ainda hoje existente e actualmente ocupado pela Igreja dos Congregados em honra de Santo António, e obtiveram para seu recreio uma vasta propriedade com casa que servia, simultaneamente, de hospital, nas abas do Monte de Santa Catarina, que deles recebeu o nome de Quinta dos Congregados.

Data de 1785 o mais antigo registo paroquial (Santo Ildefonso) que se refere a esta zona (uma Quinta do Monte de Santa Catarina).
Os Padres e os Frades congregados a S. Filipe de Néri possuíram essa Quinta, para seu recreio, até ao ano de 1834, ano em que entrou na posse do Estado (CM do Porto) em virtude da extinção das Ordens Religiosas. O novo proprietário (CM do Porto) vendeu-a, por baixo preço, a um cidadão Brasileiro, de apelido Moreira.
Foi este quem mandou (fazendo uma concepção) explorar uma grande pedreira, no ano de 1852, que ali existia, e ainda existe no actual espaço da Cooperativa dos Pedreiros Portuense e em terrenos vizinhos, cedendo depois parte do leito dela à Câmara Municipal do Porto, o que veio mais tarde a dar origem a parte da Rua Duquesa de Bragança, depois chamada de Heróis de Chaves, e hoje conhecida por Rua de D. João IV.
Nesta rua desembocavam duas serventias, sem continuidade: a da Igreja de Santa Catarina, que no ano de 1835 tomou o nome de Rua de Fernandes Tomás, e uma outra que é a Rua do Moreira – o feliz cidadão Brasileiro, dono da Quinta dos Congregados – mais tarde prolongada até à Rua de S. Jerónimo, fundada em 1878, que em 1913 tomou o nome de Rua de Santos Pousada, ilustre Jornalista, Professor, Político da cidade do Porto, Deputado e Republicano.
Mais tarde, nos finais dos anos trinta do século XIX, com o desmembramento da Quinta dos Congregados, foram fundadas uma série de novas ruas na zona mais alta de toda a cidade do Porto, entre as quais a Rua do Monte dos Congregados (rua mais alta de toda a cidade do Porto, circulada por trânsito a peões e a automóveis), situando-se a mesma entre a Rua da Alegria e o velho Jardim do Monte do Tadeu.

No cimo do Monte dos Congregados esteve a Compagnie Géneral des Eaux Pour l`Etranger, que foi a concessionária do abastecimento de água à cidade do Porto desde 1887 até 1927.
Foi fundada também nessa época a Rua do Monte do Tadeu, na qual existe o melhor e natural, o mais alto e o mais bonito Miradouro da Cidade do Porto, e onde é possível ver, a partir dele, toda a Freguesia do Bonfim e, em dias de céu limpo, outras cidades vizinhas do Porto (Matosinhos, Valongo, Gondomar e V. N. Gaia), e ainda o Rio Douro e o Oceano Atlântico, bem como todas as pontes que fazem a ligação da cidade do Porto com a cidade de V. N. Gaia.
Actualmente o ponto mais alto de toda a cidade do Porto está a necessitar, urgentemente, de ser requalificado urbanisticamente, para depois poder ser visitado por muitas pessoas oriundas das mais variadas partes de Portugal e, até mesmo, de todo o Mundo.
Para chegar ao ponto mais alto de toda a cidade do Porto (Monte do Tadeu) basta subir a Rua do Monte dos Congregados pelo lado da Rua da Alegria e depois descer a já referida rua (Monte dos Congregados) e virar à direita para chegar ao velho Jardim do Monte do Tadeu.
Depois, vira-se novamente à direita até poder chegar a uma escada que dá acesso ao Principal Miradouro da Cidade do Porto. Ai pode contemplar-se paisagens magníficas, principalmente se conseguir ter acesso ao varandim do depósito de água da torre.
Mário de Sousa*

*Consultor de Comunicação, Projectista, Licenciado como Técnico Superior em Avaliação da Qualidade de Estudos de Impacte Ambiental, responsável pelo Pelouro do Ambiente da Secção de Residência do PS/Bonfim, Porto, sócio-fundador e presidente da Associação de Moradores de Monte do Tadeu / Santo Isidro - Bonfim, Porto, Portugal, Investigador e Autor desta história verídica.