sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Navegar é preciso, mesmo na tromenta

TEXTO PUBLICADO EM 25 DE SETEMBRO DE 2009 NO JORNAL "O PRIMEIRO DE JANEIRO", PÁGINA N. 2.

É preciso continuar a navegar e acima de tudo manter o norte. É fundamental observar os ventos, repensar a rota e governar.
Os resultados das eleições europeias suscitam-nos algumas interrogações.
Numa primeira abordagem sobre o valor da democracia e a governação dos povos e numa leitura mais objectiva sobre a situação de Portugal.
O direito a votar foi difícil de conquistar. Os regimes democráticos vivem da participação de todos por isso considero legítimo que nos interroguemos sobre o direito à abstenção: será que os abstencionistas pensam que ao demitirem-se de fazer escolhas estão a contribuir para um mundo melhor? Na realidade não foram os 61,25% de abstenção, nas eleições europeias de 2004, que contribuíram para uma Europa mais forte, tal como não serão os 63,22% de abstenção em 2009.
Quanto à governação na Europa, registo com preocupação o reforço dos partidos de direita, como é o caso do Partido Popular Europeu, e tudo aquilo que representam.
Nos momentos de crise e de maior incerteza é normal emergir com mais força a necessidade de segurança e ganharem mais adeptos os discursos justiceiros e radicais contra a imigração e tudo o que seja um factor de aparente instabilidade. Mas curiosamente quem proclama a segurança também defende o liberalismo, a lei da sobrevivência do mais forte e do paternalismo sobre o mais fraco.
Por isso, quem é a favor de uma nova ética económica e social, de uma regulação dos mercados diferente da que conduziu à crise, deve ficar apreensivo com o reforço do Partido Popular Europeu, onde se inscreve o PSD e o CDS. Assim, questiono-me se não temos sérios motivos para temer o enfraquecimento do modelo social europeu.
Por outro lado, é no mínimo insólito acreditarmos que vão ser os partidos políticos que são contra a construção europeia, concretamente o BE e o PCP, que vão contribuir para que a Europa tenha uma voz mais forte e afirmativa no mundo.
Em relação a Portugal vou continuar a escrever sobre as medidas do Governo com a mesma tranquilidade porque acredito que temos tido boas medidas e que o seu impacto é positivo. Eu compreendo que nem sempre seja fácil distanciarmo-nos da nossa situação particular para vermos o que mudou à nossa volta mas é um exercício que devíamos aproveitar para fazer.
Desde o início da governação Socialista que a nossa situação vinha a evoluir muito positivamente na generalidade das áreas e a crise internacional veio inflectir essa tendência. Mas isso não obsta que Portugal tenha hoje mais e melhores respostas públicas em diferentes áreas desde a saúde, à educação, à protecção social e também ao nível da estabilidade das finanças públicas, das energias e das novas tecnologias.
A crise veio abalar a confiança das pessoas e há situações complicadas de resolver, mas isso exige estabilidade para que o Governo de José Sócrates continue a governar com rumo, não é momento para experimentações. Assim, estas eleições são uma oportunidade para o Governo de José Sócrates repensar a rota, abrir novas perspectivas e manter o bom rumo de Portugal no sentido do desenvolvimento social e económico.

Mário de Sousa - BONFIM, PORTO

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