terça-feira, 11 de agosto de 2009

CRÓNICAS PORTUENSES

Uma Senhora do Porto na Igreja do Senhor Jesus da Boa-vista, na Freguesia do Bonfim








TEXTO PUBLICADO TERÇA-FEIRA, 11 DE AGOSTO DE 2009 NO JORNAL "O PRIMEIRO DE JANEIRO", PÁGINA N.º 2.



A comunidade de Montebelo, actualmente situada na antiga Capela (hoje Igreja) do Senhor Jesus da Boa-Vista, faz uma das mais bonitas festividades que se realiza na freguesia do Bonfim, na cidade do Porto, em honra de Nossa Senhora do Porto.


Já dizia Almeida Garrett em “Viagens na Minha Terra”: “A religião de Christo é a mãe da liberdade, a religião do patriotismo sua companheira”. O que não respeita os templos, os monumentos de uma e outra, é mau amigo da Liberdade, e o Almeida Garrett já naquele tempo estava coberto de razão.


Pois é nos dias 25 a 28 de Setembro que normalmente estas festividades têm lugar. Trata-se de mais um ano em que a tradição ao monumento em honra de Nossa Senhora do Porto é respeitada por toda uma comunidade religiosa ciente da tradição popular que teve origem por volta de 1809, ano em que por ocasião da invasão francesa se tornou notável a defesa d`esta cidade nas trincheiras. Desde o monte do Senhor do Bonfim, passando pela Capela do Senhor da Boa-Vista, até ao Monte dos Congregados (onde existiam baterias militares) a cidade era defendida.
É sabido que no memorável e tristíssimo dia 20 de Março de 1809, por ocasião da invasão francesa, nas ruas da cidade do Porto, andava um soldado das hostes napoleónicas com a imagem da actual Nossa Senhora do Porto a oferecê-la à venda dos raros transeuntes que topava. Um destes foi o piedoso varão, já há muitos anos falecido, Lorenço Inverno, então empregado que era da Câmara Municipal do Porto, que lhe ofereceu um pinto, moeda de prata no valor de 480 réis, denominado cruzado novo. E como o soldado lha cedeu, foi depois levada para a ermida, salvando-se deste modo aquela que é ainda hoje uma boa e s c u l t u r a, talvez outrora roubada de algum templo ou tirada de um oratório, naqueles momentos terríveis em que a soldadesca invasora saciou a sua cobiça, nas horas do saque que faziam na cidade do Porto.
A já referida imagem monumental de Nossa Senhora do Porto está hoje exposta na Capella do Senhor da Boa-Vista, quase ao fim da Rua Joaquim Urbano (antiga Rua Montebelo), pouco distante do histórico local do Guellas de Pau, e foi edificada (a capela) em 1767. Foi depois reconstruída e ampliada em 1864, ainda foi reconstruída em 1979 e ultimamente melhorada tanto no interior como também exteriormente, graças aos esforços das últimas administrações.


É hoje uma muito bonita capela que deve ser visitada, não só pelos devotos a Nossa Senhora do Porto ou do Senhor Jesus da Boa-Vista.
Depois da sua edificação, a capela foi patrimoniada no ano de 1797. Quem lhe fez ou doou o património foi o reverendo Cónego da Sé do Porto, José Maria de Souza, professo na ordem de Christo, por emprazamento perpétuo que fez a Custódio Gonçalves e sua mulher Joanna Rosa, da freguesia de Paranhos, na cidade do Porto, imputando-lhe a renda de quatro mil réis anuais.
E a tradição popular continua na freguesia do Bonfim, na cidade do Porto, e tanto que, há talvez
um século, por motivo de uma grande estiagem, se organizou uma procissão em que aquela imagem saiu da sua capela, foi até ao actual Campo 24 de Agosto, subiu a Rua do Bonfim, onde esteve na respectiva igreja e regressou festivamente ao seu humilde cantinho no interior da actual Capela do Senhor Jesus da Boa-Vista.
É esta a imagem que comemora a época em que a cidade da Virgem aos títulos que possuía de Mui Nobre, Sempre Leal Cidade viu acrescentado o de Invicta.


Ao acabar esta minha história portuense em forma de memória, não quero fazêlo sem primeiro agradecer ao Sr. José Morais de Sousa pelo seu contributo e disponibilidade, e por me ter cedido documentação muito útil para a feitura desta crónica, Bem-haja por tudo.


Mário de Sousa - Bonfim, Porto


mario.sousa1@sapo.pt / mario.sousa@europe.com

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