Publicado em 12 de Maio de 2009 no Jornal "O Primeiro de Janeiro", Página n.º 2.
Numa altura em que o Futebol Clube do Porto está a poucos minutos de conseguir pela segunda vez o seu Tetra, vale bem a pena recordar um troféu com taça muito especial, guardada no museu dos grandes dragões.
Ele (o troféu) chama a atenção pela sua imponência e invulgar qualidade artística: o troféu com taça comemorativa da vitória por 3-2, em 1948, sobre o Arsenal, de Londres.
É um autêntico monumento a esses grandes dragões de 1948. É a celebração de uma das grandes vitórias do F. C. Porto, mas é antes de tudo a celebração do espírito apaixonado de um imenso conjunto de portuenses (portistas) sedentos de glória para o clube de cores azul e branco.
A vitória sobre o Arsenal ocorreu a 6 de Maio de 1948, numa altura em que os ingleses assumiam um domínio absoluto na prática do futebol. Vinham ainda com a fama de terem sido os inventores do futebol, e entre as suas equipas encontravam-se alguns dos melhores praticantes a nível mundial. Por isso, quando no ano de 1948 se anunciou a realização do jogo, no Estádio do Lima, entre o F. C. Porto e aquela que era então o mais mítico dos clubes ingleses, o Arsenal, cresceu uma expectativa desmesurada na cidade do Porto e um pouco por todo o país. Os ingleses chegavam ao Porto no seguimento de uma digressão vitoriosa pelo continente europeu, o que, se por um lado incutia mais receio, por outro lado fazia aumentar a apetência pelo jogo. Assim foi. O público esgotou o estádio do Lima e assistiu a um espectáculo fabuloso.
Com uma exibição para recordar a letras de ouro, o F. C. Porto venceu por 3-2, com dois golos de Correia Dias e um de Araújo (pois… o F. C. Porto já então era um grande clube europeu).
O jogo era particular e não estava nenhuma taça em disputa. Só que a alegria foi tanta, o orgulho foi de tal ordem, que um conjunto de portuenses (portistas) decidiu que haveria de haver uma taça a assinalar este feito.
Uma comissão de sócios e admiradores do F. C. Porto tratou de angariar fundos e encomendou a taça à Ourivesaria Aliança. Os artesões da Aliança materializaram magistralmente o projecto de João Antunes e a concepção escultórica de Marinho Brito e Albano França.
A 21 de Outubro de 1949, mais de um ano depois do jogo, o troféu era entregue à Direcção do F. C. Porto, na sede social do clube, então na Avenida dos Aliados. O espanto foi generalizado, perante tamanha beleza. Não era uma taça nos moldes tradicionais. Compõe-se de duas partes distintas, mas ligadas pelo significado: uma “taça da vitória e um escrínio”. No interior do escrínio, com dois metros e oitenta centímetros de altura, fica guardada e exposta uma taça com
90 centímetros de altura.
Para a concepção de tão bela obra de arte, foram utilizados vários materiais, como, por exemplo, ouro, prata, esmalte, cristal, madeira fina e veludo. O peso total de tão belo troféu é de 300 quilos e inclui 130 quilos de prata.
É, afinal, uma grande obra de arte, para assinalar uma vitória do “outro mundo”!
Mário de Sousa* - Bonfim, Porto
*Sócio do F.C. do Porto n.º 26652
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