quarta-feira, 4 de agosto de 2010

MOMENTOS POLÍTICOS EM QUE VIVEMOS


MOMENTOS POLÍTICOS EM QUE VIVEMOS

O líder do PSD, Pedro Passos Coelho, começou a entrar em derrapagem ao fim de pouco tempo. Quis dar uma imagem de grande líder, que se coloca para além das pequenas questões partidárias, que coloca as instituições em primeiro lugar, que é profundamente patriótico e salvador do país. Vai daí encontra-se com o Primeiro-Ministro, José Sócrates, a quem sugere e exige cortes vários, nos investimentos públicos, nas despesas do Estado e nos salários, propondo ainda o aumento de impostos, a troco de dar a mão ao país, como ele afirmou; para além disso, falou aos portugueses e pediu-lhes desculpa, afinal, por fazer aquilo que devia ser feito.
Mas, escassos dias após tudo isso se ter passado, é ver agora o PSD célere e em correria desenfreada, em todos os recantos do país, a exigir obras, a pedir mais investimento e a clamar pelo aumento das despesas do Estado nas mais diversas áreas. É o chamado paradoxo ou mais uma versão do “muito bem prega Frei Tomás”.
Fiquei bastante estupefacto com tamanha falta de coerência.
Mas, bem vistas as coisas, é mais uma daquelas derivas a que o PSD e os seus líderes já nos vem habituando ao longo dos tempos.
Senão vejamos.
Nas obras públicas são contra todas, mas depois vêm exigir todas e mais algumas para todos os municípios e territórios.
Nas energias renováveis, dizem que concordam, mas depois vêm colocar em causa todos os programas e todos os planos que visam aumentar a nossa segurança energética através da diversificação das fontes de energia.
Na saúde, dizem que temos que racionalizar mas quando a ministra apresenta um plano para a redução de custos o PSD acha que todas as medidas são cegas e erradas sem apresentar qualquer tipo de alternativas a não ser a de acabar com o SNS.
Na segurança social, não encontrando melhor solução no âmbito das políticas públicas, dizem que o melhor era mesmo a sua privatização!
Na banca já todos bem sabemos o que faria. Matava a CGD através da sua privatização. Aquilo que nem ao mais liberal dos liberais passaria pela cabeça, passa pelo pensamento e pela vontade de Pedro Passos Coelho.
Ou seja, o PSD quando se trata de teorizar e apregoar medidas em abstracto e nas nuvens, quer fazer todos os cortes possíveis e imaginários, mas quando se trata de questões concretas e objectivas para os territórios e para as pessoas, quer a execução de todas as obras e mais algumas e o benefício para todas as classes profissionais.
Não, esta não é uma forma leal e patriótica de fazer política. Esta é uma forma populista e politicamente irresponsável, que descredibiliza a política e os políticos.
Com este PSD não creio que haja “tango” que resista! Aguardemos para ver!
Vivemos num momento de maior e mais grave crise económica, social e financeira mundial desde a II Grande Guerra. Para mais, o quadro políticoinstitucional saído das últimas eleições legislativas (com maioria relativa do PS e um parlamento fragmentado), a crispação política permanente (numa lógica de ataques de carácter, gerida meticulosamente e a conta gotas), a persistente irresponsabilidade política da oposição (que faz com que a extrema esquerda –seja ela marxista-leninista, maoísta ou trotskista – se junte à direita conservadora e à direita liberal e vice-versa, com um único objectivo: o ataque ao Governo) e uma nova liderança do maior partido da oposição (que optou por uma linha tacticista e oportunista), adensam o clima político e criam uma percepção, na opinião pública, de guerrilha permanente.
É neste quadro que o Governo de José Sócrates tem de resolver uma “equação complexa”.
Ou seja, neste contexto difícil – com o ataque dos mercados e a pressão internacional – está obrigado a tomar medidas dolorosas e penosas, ao mesmo tempo que prossegue uma agenda de crescimento económico através da execução do Programa de Governo e do cumprimento das promessas eleitorais assumidas. É esta a batalha que estamos a travar: a batalha da governabilidade, contra ventos e marés.
Vivemos, de facto, tempos extremamente exigentes e o PS tem de estar à altura da sua história. Ora, este cenário político-social complexo reclama de todos nós Portugueses mobilização, coragem, combate político e trabalho, muito trabalho. Mais uma vez o PS é chamado a governar quando o país, a União Europeia e o Mundo vivem uma situação difícil. E perante a miopia política, o calculismo eleitoral e a inconsciência da oposição, o PS tem de continuar a afirmar-se como o referencial da estabilidade e da defesa do interesse nacional. O que está em causa é muito importante. Para além da batalha da governabilidade, a eleição da nova liderança no maior partido da oposição antecipa um importante desafio. Começa a desenhar-se uma redefinição ideológica e programática no PSD, que conduzirá, inevitavelmente, a um fortíssimo ataque ao Estado Social (e aos seus pilares fundamentais). Antevê-se um ataque sem precedentes à Saúde, à Educação e à Segurança Social públicas, por parte de uma direita liberal, sedenta de poder e destituída de valores, que aposta tudo no livre arbítrio do mercado.
A mesma lógica que conduziu o mundo a esta grave crise.
A batalha e os desafios aqui enunciados convocam todos os socialistas e os Portugueses em geral, e apelam à união em torno do nosso legado histórico, dos nossos princípios fundadores, do nosso projecto para o país e a um combate sem tréguas na defesa do interesse nacional, da governabilidade e do Estado Social.


Mário de Sousa*

*Consultor de Comunicação

mario.sousa@europe.com

Sem comentários:

Enviar um comentário